O presidente Lula desembarcou em Moscovo, a 13 de Maio, para impulsionar a cooperação bilateral, a reforma das Nações Unidas e do sistema financeiro internacional e o diálogo com o Irão, sendo o programa nuclear iraniano um dos principais temas do seu encontro com o presidente russo, Dmitri Medvedev. Lula inicia, na Rússia, uma viagem que inclui também visitas ao Catar, ao Irão, à Espanha e a Portugal.
Lula visitou a Rússia pela última vez em Agosto de 2009 para participar da Cimeira formal dos BRIC em defesa de um sistema de moedas mais diversificado, estável e previsível. No mês passado, durante nova Cimeira dos BRIC em Brasília, Lula se reuniu com Medvedev, que fazia então sua segunda viagem à América Latina desde que assumiu a Presidência russa, em Maio de 2008. Nessa ocasião, os líderes brasileiro e russo também reivindicaram a reestruturação do FMI e do Banco Mundial para assegurar uma sociedade internacional mais justa, que promova o desenvolvimento sustentável, com mecanismos mais democráticos e transparentes de tomada de decisões.
Lula faz a sua quarta visita a Moscovo, numa indicação da importância associada por ambos os Estados ao desenvolvimento de novas relações que reflectem o crescente poder económico e político dos BRIC. A Rússia e o Brasil são ambos grandes produtores e exportadores de commodities, com a Rússia entre os maiores produtores de energia e metais e o Brasil forte nas exportações de produtos agrícolas, minério de ferro, carros e maquinaria.
"A cooperação multilateral russo-brasileira caracterizou-se nos últimos anos por uma dinâmica estável e positiva", informou o Kremlin, sendo objectivo da visita a assinatura de vários acordos e memorandos bilaterais, entre eles um programa de cooperação técnico-científica para o período 2010-2012 e outro de colaboração militar.
Os dois chefes de Estado emitem também uma declaração política conjunta sobre o 65º aniversário da vitória russa sobre a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial.
Durante as conversas com os líderes russos, Lula abordará o chamado Plano de Acção da Associação Estratégica, assinado recentemente pelo Brasil e pela Rússia, abordando também a possibilidade de utilizar as moedas nacionais nas trocas comerciais bilaterais, em substituição ao Dólar.
No plano internacional, um dos assuntos apoiados pelas duas partes é a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU e as instituições financeiras, como o FMI e o Banco Mundial, para dar mais voz e votos aos países emergentes.
Além disso, Moscovo e Brasília buscam "ampliar a cooperação bilateral na realização de projectos conjuntos em grande escala" nas esferas energética e de alta tecnologia, almejando o Brasil adoptar o sistema de navegação por satélite russo Glonass - que compete com o norte-americano GPS - e a tecnologia russa de produção de gás liquidificado. Por outro lado, o Brasil quer cooperar na fabricação de aviões civis e militares e em naves e foguetes espaciais. A Rússia, por sua vez, está interessada em participar da construção de centrais termoeléctricas e hidroeléctricas no Brasil e participar da exploração de jazidas de gás na plataforma continental brasileira.
Durante um encontro a 14 de Maio, os presidentes Lula e Medvedev assinaram um “plano de acção” entre os dois países em diversas áreas, sobretudo em tecnologia, até porque um dos grandes potenciais de avanço na relação entre Brasil e Rússia está na exploração da camada do pré-sal. “Os russos sabem que sua tecnologia no transporte do gás liquefeito, por exemplo, pode interessar à Petrobrás”, disse o embaixador do Brasil na Rússia, José Paranhos, para quem é ainda necessário que o Brasil rompa com “certos estereótipos” se quiser avançar nas relações comerciais com a Rússia, designadamente o preconceito de que a Rússia é uma ‘caixa-preta’, desinteressada da transferência de tecnologia. A gigante russa de gás natural Gazprom pretende abrir um escritório no Rio de Janeiro neste ano como parte dessa iniciativa, disse o Kremlin.
Devido à crise económica mundial, o comércio bilateral sofreu uma drástica queda de 32% em 2009, no patamar de US$ 4,5 bilhões, tendo o fluxo de comércio entre os dois países, nesse ano, caído praticamente para metade, embora, segundo a diplomacia brasileira, essa relação esteja sendo retomada. Em 2009, as trocas comerciais entre o Brasil e a Rússia somaram US$ 4,3 biliões, contra US$ 8 biliões do ano anterior. Apesar das vendas menores em 2009, a diferença ficou positiva para o Brasil em US$ 1,4 bilhões. Também nesta Sexta-feira, os dois presidentes anunciam o fim da necessidade de visto para passaportes comuns nas chamadas estadias de curta duração (90 dias), a partir de Junho.
Segundo as agências russas, Lula também conversará com Medvedev e Putin sobre a crise nuclear do Irão, para onde irá no Domingo para se reunir com o líder Mahmoud Ahmadinejad.
O Irão protagoniza uma polémica internacional por desenvolver um suspeito programa nuclear, acusado por países ocidentais de ter objectivos bélicos. Teerão nega as acusações, mas os Estados Unidos e outros Estados buscam aplicar novas sanções internacionais no Conselho de Segurança da ONU contra o regime iraniano. Lula ofereceu-se para mediar o conflito entre o Irão e o Ocidente para evitar a imposição de sanções e persuadir o governo iraniano a cooperar com a sociedade internacional para dissipar as suspeitas de que o seu programa nuclear tenha fins militares.
O Brasil apresentou uma proposta segundo a qual o Irão trocaria combustível nuclear com a Turquia, país que tem estreitos laços tanto com Ocidente como com o Médio Oriente. Assim, o Irão enviaria urânio ao exterior e recebê-lo-ia de volta enriquecido a 20%, nível suficiente para fins pacíficos. Segundo a imprensa iraniana, Ahmadinejad disse que aceitou "em princípio" a proposta de Lula durante uma conversa telefónica com o líder venezuelano, Hugo Chávez.
"Se a proposta for apoiada por todos os participantes do processo, essa não seria uma saída má da actual situação", declarou ontem Dmitri Medvedev a respeito, durante uma visita à Turquia.
O Irão já rejeitou no ano passado uma oferta similar da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), em virtude da qual a Rússia e a França teriam enriquecido urânio com destino às siderurgias nucleares iranianas.
Segundo o Itamaraty, a Rússia tem dado “indicações” de que considera “positiva” a iniciativa do presidente Lula de tentar avançar nas conversas com Teerão sobre o enriquecimento de urânio. O encontro bilateral ocorre a poucos dias da visita oficial do presidente Lula ao Irão, programada para os dias 16 e 17 de Maio. Antes de chegar a Teerão, Lula fará ainda uma paragem de um dia no Catar. Considerada a segunda maior potência nuclear do planeta – atrás apenas dos Estados Unidos – a Rússia faz parte do grupo de países (o chamado P5+1) que vinha liderando as negociações com o Teerão nos últimos anos. Além disso, como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia está entre os países que podem vetar uma nova ronda de sanções económicas a Teerão, apesar de Moscovo já ter sinalizado estar de acordo com certas penalidades. A verdade é que o governo russo concorda com a posição brasileira de que as possibilidades de diálogo “ainda não estão totalmente esgotadas”, sendo certo que a Rússia não defende sanções “de forma automática”.
O apoio de Medvev a Lula sinaliza que o governo russo acredita na “capacidade de interlocução” e na “credibilidade” do presidente brasileiro nas tentativas de um novo entendimento com Teerão“, por considerar que o presidente Lula tem credibilidade para alcançar um compromisso do lado iraniano que permita retomar o diálogo em relação ao programa nuclear. Ademais, contrário a sanções demasiado danosas, os Russos têm insistido para que as novas sanções não paralisem a economia iraniana ou causem problemas sérios à população.
Friday, May 14, 2010
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