Friday, November 7, 2008

O Brasil e a Crise Financeira Mundial

O BRASIL: DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL E DA CONJUNTURA



O governo brasileiro tem como meta garantir que a economia cresça 4% em 2009, para o que está tomando medidas para sustentar a actividade económica e os níveis de emprego e da renda. Medidas que, no seu conjunto, colocarão R$ 24 milhões em crédito à disposição de vários sectores da economia. Além desse pacote, o governo concedeu um prazo maior para que as empresas recolham os impostos, prometeu que não haverá cortes no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e criou um gabinete de crise com a missão de acelerar o andamento daquelas medidas.

Preocupado com as repercussões de um insucesso na condução da economia real – cujos êxitos têm, até ao momento, suportado a avaliação positiva da população, segundo as sondagens de opinião – politicamente conveniente em época de eleições municipais, Lula tem acelerado a tomada de medidas – que já tardavam, criando mal-estar no Palácio do Planalto – para conter os efeitos da turbulência nos mercados internacionais.

Ademais, a economia brasileira assiste hoje a um vigoroso movimento rumo a uma consolidação cada vez maior e mais forte do sector financeiro. A fusão do banco Itaú Holding Financeira com o Unibanco – duas das maiores instituições do mercado financeiro brasileiro – e a possibilidade de outros gigantes seguirem o mesmo caminho para manter as suas posições no ranking, como o Bradesco e o Banco do Brasil, exemplificam claramente esse movimento.

É evidente que esta concentração do sistema financeiro acarreta riscos que, não obstante estar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disposto a combater, é necessário equacionar. Riscos ligados, sobretudo, às consequências que a falta de competitividade traz, já que conduz a preços mais elevados e à diminuição da qualidade dos serviços, prejudicando os consumidores. Riscos que, todavia, certamente merecem a pena ser enfrentados, já que, em tempos de crise, mais importante do que a evolução da concentração é a solidez do sistema financeiro; e a concentração em causa vem precisamente no sentido de fortalecer esse sistema.

De qualquer modo, para Lula, o pior da crise já passou e o impacto sofrido pelo Brasil não foi tão forte como os que se fizeram sentir em outros países. Com um tom de optimismo quase despropositado em tempos de crise, a equipa económica de Lula continuará a apostar no estímulo do consumo interno – o factor hoje essencial na solidez da economia brasileira.

Apesar de todo este optimismo, o Brasil continua apostado em reforçar os contactos com os restantes países, sobretudo no seio do G20 e, naturalmente, no âmbito dos BRIC, como forma de enfrentar a crise.

Criado em 1999, logo após a crise asiática, com o objectivo de tratar de questões relativas à estabilidade financeira, embora passando, com o tempo, a ter uma agenda mais ampla, que incluía temas como meio ambiente e energia, o G20 tem vindo a adquirir uma importância significativa na actual sociedade internacional, hoje em debate em função do agravamento da crise financeira iniciada em Agosto do ano passado nos Estados Unidos.

Na reunião do G20 de 8 e 9 de Novembro de 2008, a realizar-se em São Paulo, o Brasil – que actualmente ocupa a Presidência rotativa do Grupo – apresentará propostas para aumentar a participação dos países emergentes no processo de reformulação do sistema financeiro mundial que lhes permitam, designadamente, vivenciar uma divisão mais equitativa entre os países nesse processo de reforma. Por outras palavras, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, espera que, no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial, as economias avançadas e as emergentes participem de modo equitativo no processo de tomada das decisões, por forma a que o G20 influencie mais directamente os trabalhos das Instituições Financeiras multilaterais. O mesmo se pretende para os BRIC. Até porque, na realidade, a crise pode ser uma oportunidade para corrigir as distorções existentes, já que a solução daquela passará, certamente, pelo que será feito nos países emergentes que, juntos, representam cerca de 90% do PIB mundial


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