Na sua saga sobre a família Terra-Cambará, em "O Tempo e o Vento", Erico Veríssimo, por entre belas descrições e ficções em torno da figura de Getúlio Vargas e respectivo período histórico, fala da Acção Integralista Brasileira e de como os fascistas e nazis ganhavam peso no Rio Grande do Sul em vésperas da Segunda Guerra Mundial. Lembra, mesmo, a esse respeito, o velho plano pan-germânico que abrangia o Brasil e que muitos teuto-brasileiros defendiam, em prol da causa nazi, única força capaz de dominar e controlar o perigo comunista. A certa altura, Veríssimo lembra, mesmo, o Professor Wilhelm Sievers (1860-1921), da Universidade de Giessen, e sua obra “Sudamerika und die Deutschen interessen” (A América do Sul e os Interesses Alemães), na qual defende a tese de que a Alemanha deveria colocar, sob seu protectorado, todos os países sul-americanos. Em termos mais precisos, o projecto alemão do período 1933-1945 envolvia o Sul do Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e parte da Bolívia.
Existem muitos mistérios em torno da história da colonização alemã nessa região, sendo praticamente certo que a questão remonta a 1740, com Frederico II. O interessante é verificar que Sievers chegou a afirmar, na obra já citada, de 1903, que "O império alemão, para assegurar a sua posição, ameaçada, de potência dominante no mundo, necessita adquirir influência onde ainda é possível encontrá-la, isto é, na América do Sul. Não, porém, sob a forma de anexação, como foi o caso de Kiar Tcheau, pois suscitaria inimizades e reacções locais, mas sim através da ajuda económica, industrial e, mesmo, militar, se necessário".
É esse, igualmente, o pensamento de Joseph Ludwig Reimer (1879-1955), que acrescenta, na sua obra “Einpangermanisches Deutschland” (pan-Germanização da Alemanha), publicada apenas dois anos depois: "Não temos por que imaginar que a entrada da força e do capital alemão seria mal recebida pelos Estados sul-americanos. Os mais discretos acolheriam com regozijo tal cooperação moral e material por verem nela um apoio contra seu inimigo natural, os Estados Unidos".
Dá a sensação que, à época, existia a possibilidade de a América do Sul ser dividia em dois grandes blocos, nos quais a Alemanha e os Estados Unidos definiriam o respectivo poder, controlando politicamente a região de predominância, incluindo o controlo militar e o económico. Como se a região não tivesse vontades distintas e esse pan-germanismo fosse dominante, coisa que não era seguramente. Tanto que, no Brasil, a Acção Integralista teve limitados apoios, ainda que muito importantes, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Apenas para relembrar.
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